
Lia Andriani1
E chegando a um grande povoado antes de Monserrate, quis comprar ali o vestido que determinara vestir, com o qual iria a Jerusalém. Comprou tela de que costumam fazer sacos, de uma que não é muito tecida e tem muitas farpas e mandou fazer com ela uma veste comprida até aos pés. Comprou mais um bordão e uma cabacinha, e colocou tudo diante do arção da mula. (Autobiografia, 16)
Inácio estava determinado em ir para Jerusalém como peregrino, desprovido de tudo, sozinho e a pé. Em seu coração, o desejo de caminhar nos passos de Jesus e o de experimentar a presença divina de maneira mais profunda, o impulsionava a se pôr a caminho.
Tudo o que tinha vivido e construído anteriormente, parecia não fazer mais sentido… Mas, em Deus, nada se perde, mas se reorienta: traumas, feridas, cultura, contexto. Deus recolhe tudo e dá novo sentido e nova direção. Inácio, então, vai se reconhecendo como peregrino, como um homem em caminho e traça para si um itinerário, uma expressão do seu desejo mais genuíno de seguir os passos de Jesus.
Mas, o que é ser peregrino?
Peregrinar não é apenas mudar de lugar. É, antes de tudo, permitir que o caminho nos transforme. Desta maneira, Inácio não percorreu somente estradas físicas, mas trilhou uma jornada interior que o desfez e o refez. De vaidoso cavaleiro, tornou-se um homem de Deus, de buscador das glórias terrenas, passou a ser instrumento de uma missão do Reino. Ele se deixou moldar pelo caminho para, mais tarde, ser ele mesmo, meio de colaboração para a transformação de muitas pessoas no caminho da vida.
Como peregrino, Inácio aprendeu a confiar profundamente em Deus e a deixar-se conduzir por Ele, mesmo em meio aos obstáculos mais duros e inesperados. Como peregrino, Inácio entrega a Deus, o controle total da sua vida e experimenta uma renovação espiritual profunda, se tornando mais consciente da presença de Deus na sua própria vida.
Inácio transformou sua experiência pessoal em um mapa para outros que desejam trilhar um caminho espiritual semelhante ao dele e passou a ser lembrado como um “peregrino de Cristo”, pois sua vida se tornou um constante movimento em busca de Deus e de um serviço mais profundo à Igreja.
Inácio peregrino…
-
- nos inspira a buscarmos uma relação mais profunda com Deus, para viver uma vida de serviço e compromisso;
-
- nos convida a sermos peregrinas e peregrinos de nossos próprios sonhos e desejos, buscando a vontade de Deus em cada passo do caminho;
-
- nos impulsiona a sermos peregrinos e peregrinas da esperança, seguindo os passos de Jesus, aprendendo da sua vida e do seu modo de proceder no mundo.
A experiência de Inácio nos instiga a sermos peregrinas e peregrinos da esperança, em nosso próprio caminho. Isso significa que, devemos estar abertos às novas experiências, dispostos a enfrentar os desafios que aparecerão no caminho e a confiar, simplesmente, na providência de Deus.
Que possamos nos inspirar na experiência de Inácio para nos tornarmos peregrinas e peregrinos da esperança, confiando que Deus está conosco em cada passo do caminho:
Inácio seguia o Espírito, não se adiantava a Ele. Deste modo era conduzido serenamente por onde não sabia. Aos poucos o caminho se lhe abria e o percorria sabiamente ignorante, colocando, simplesmente, seu coração em Cristo. (Jerônimo Nadal).
[1] Eliane Nunes Calfa Andriani (Lia Andriani)
Leiga, casada, graduada em Arte-Educação, Teologia, Pedagogia, especializada em Espiritualidade, Orientação Educacional e Orientação Espiritual Cristã. Acompanhante e Orientadora dos Exercícios Espirituais de Santo Inácio há mais de 25, coordenadora da equipe do EVC Nacional on-line.
Imagem: Jesuit Media | Ignasi Flores