Wêdja Domingos de Melo
Considerando a sociedade contemporânea, fortemente marcada pelo barulho, pela globalização da superficialidade, pelo egoísmo, pelo cansaço diante da vida, pela ansiedade vazia, pela demasiada busca de prazer, em que as pessoas caminham aceleradamente, muitas vezes motivadas pelo desejo de demonstrar eficiência, observa-se o crescente anseio por vivenciar uma espiritualidade da parte de inúmeros indivíduos, conscientemente ou não, pois anseiam por sentido, ou seja uma causa pela qual lutar, empreender as suas forças, viver.
Porque sem uma causa pela qual lutar, se entregar, investir a vida, o ser humano vai perdendo as motivações para existir com mais intensidade e inspiração. Aos poucos vai ficando apático, ausente ao presente e o que pior, ausente a si mesmo. Muitas vezes sem perceber, se atrofia, perde a criatividade aprofunda-se na tristeza.
Viktor Frankl¹ intuiu e comprovou que o ser humano tem vontade de sentido. E, que essa vontade de sentido se manifesta por transcender um comportamento de mera passagem pela vida para uma postura de buscar, vibrar, amar, experimentar, saborear tudo o que esta possa lhe oferecer. É o estar a serviço de uma causa, amando.
O que o ser humano precisa não é de um estado livre de tensões, mas antes a busca e a luta por um objetivo que valha a pena, uma tarefa escolhida livremente. O que ele necessita não é uma descarga de tensão a qualquer custo, mas antes o desafio de um sentido em potencial à espera de seu cumprimento. O ser humano precisa não de homeostase, mas daquilo que chamo de noodinâmica”, isto é, da dinâmica existencial num campo polarizado de tensão, onde um polo está representado por um sentido a ser realizado e o outro polo, pela pessoa que deve realizá-lo (Frankl, 2008, p.130).
Para Viktor Frankl a pessoa humana pode atribuir sentido à existência na realização de uma tarefa escolhida livremente. Tal escolha/decisão se dá pelo exercício do discernimento. Para tanto, a Espiritualidade Inaciana oferece meios que ajudam-na a encontrar a vontade de Deus para a sua vida e, ao realizá-la, poderá atribuir sentido, que a tornará fecunda, plena e direcionada a ajudar outras pessoas a se realizarem também.
Pois, para Santo Inácio, conforme o Princípio e Fundamento (EE 23), “O ser humano é criado para louvar, reverenciar e servir a Deus nosso Senhor e, assim, salvar-se […]”. O desejo de fazer a vontade de Deus não relega o desejo de sentir-se amado, que é um dos maiores desejos do ser humano e condição básica para que este seja amável. Amando alguém, a pessoa experimenta que sua vida tem valor e percebe a própria vida desenvolvendo-se. O amor é, portanto, constituinte.

Referências
Frankl, Viktor E. Em busca de sentido: um psicólogo no campo de concentração. Tradução de Walter O. Schlupp e Carlos C. Aveline. 25 ed. São Leopoldo: Sinodal; Petrópolis: Vozes, 2008.
LOYOLA, Inácio de. Exercícios Espirituais. 7ª ed. Tradução de R. Paiva. Loyola: São Paulo, 2013.
¹ Viktor Frankl foi médico psiquiatra, sobrevivente do campo de concentração nazista e fundador da Logoterapia e Análise Existencial.
Wêdja Domingos de Melo é doutoranda em Teologia e mestra em Ciências da Religião. Também é pedagoga com especialização em Gestão Educacional e especialização em Orientação e Acompanhamento Espiritual. Orienta os Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola e é acompanhnte espiritual.