“Sentou-se à mesa com os dois, tomou o pão e o abençoou, depois o partiu e deu a eles. Nisso os olhos dos discípulos se abriram, e eles reconheceram Jesus. Jesus, porém, desapareceu da frente deles.” (Lc, 24, 30-31)
Em setembro de 2023, teve início uma série de reuniões sobre a 8ª edição da Instrução Geral sobre o Missal Romano e Introdução ao Lecionário, texto oficial da 3ª edição típica do Missal Romano, na igreja que frequento. Essa proposta de formação foi coordenada pelo padre Marco Aurélio, AA, pároco da Igreja Santíssima Trindade, no Flamengo, Rio de Janeiro. Decidi prontamente participar das reuniões, pelo desejo de aprofundamento na liturgia e curiosidade sobre as tais mudanças.
A 3ª edição do Missal Romano foi promulgada em abril 1969, pelo Papa Paulo VI, e emendada pelo Papa João Paulo II, em 2002. Utilizamos esta versão nas nossas celebrações eucarísticas desde 2007. Entretanto, uma tradução oficial para o Brasil foi publicada no início de 2023, entrando em vigor no 1° domingo de Advento, dia 3 de dezembro de 2023.
Na preparação para os encontros na paróquia – e durante eles – lembrei-me de algumas experiências especiais que vivenciei em celebrações eucarísticas.
O primeiro momento forte foi justamente a 1ª eucaristia! Ela ocorreu antes do aggiornamento decorrente do Concílio Vaticano II, no dia 8 de dezembro de 1962, na Catedral São João Batista, em Nova Friburgo, RJ, e a celebração inteira me tocou muito. Meu coração disparou ao receber o corpo de Cristo! Até hoje recordo aquele sentimento de alegria, acolhida e pertencimento a uma comunidade de cristãos. Desde então, a eucaristia sempre foi fundamental para mim. É alimento de vida. Participar de uma missa e não comungar é incompleto, falta o essencial.
Recordo outras missas especialmente tocantes para mim. Em 1986, na Assembleia Mundial da Comunidade de Vida Cristã – CVX, em Loyola (Espanha), tive a oportunidade de fazer parte da equipe de liturgia. Fiquei deslumbrada com as celebrações preparadas pelos representantes das CVX de países orientais (com uma profusão de flores e perfumes), africanos (com cantos e danças) e latino-americanos (muito animadas). Constatei como a celebração pode ser enriquecida ao se adaptar a diferentes contextos culturais, sem perder a essência do mistério.
Ainda nessa Assembleia, participei da missa presidida pelo então Geral da Companhia de Jesus, padre Kolvenbach, SJ. Nem todos sabem que o Padre Geral é o Assistente Eclesiástico da CVX Mundial – normalmente ele nomeia um vice-assistente que a acompanha diretamente, mas o Geral costuma presidir uma celebração nas Assembleias Mundiais e dirigir uma importante exortação na homilia dela. Celebrar a eucaristia, naquele lugar ímpar na vida de Santo Inácio, com representantes da CVX de várias partes do mundo, leituras em diferentes idiomas, presidida pelo Geral e concelebrada pelos assistentes eclesiásticos das diversas comunidades nacionais, foi uma experiência marcante: vivenciei Pentecostes!
Em 2020, devido à pandemia (COVID-19), as missas presenciais foram suspensas, por alguns meses, nas igrejas do Rio de Janeiro. Durante esse período, assisti as celebrações online, tendo a oportunidade de acompanhar as liturgias nas Paróquia Cristo Rei (Fortaleza-CE), Centro Cultural Brasília (DF), Igreja Santo Antônio da Barra (Salvador-BA) e Santuário de Anchieta (Anchieta-ES), entre outras. No entanto, assim que as missas presenciais foram permitidas, seguindo as precauções recomendadas, retornei a elas. Decidi participar na Santíssima Trindade, uma igreja muito arejada e que havia se preparado muito bem para o retorno das missas.
Não consigo descrever o turbilhão de sentimentos que me tomaram ao participar dessa celebração eucarística na igreja que frequentei na juventude! Além dos cuidados de prevenção (álcool em gel em todas as portas, marcação nos bancos para garantir espaço entre as pessoas, ministros levando a eucaristia aos participantes para não haver filas etc.), senti forte emoção por estar em comunidade! Aquele casal que levava três filhos pequenos, há 15 anos, estava lá com os três, agora jovens adultos, dois deles fazendo as leituras da celebração! A mesma organista cantora. Alguns idosos – agora mais idosos – sentados nos mesmos lugares! E a comunhão eucarística!!! Experimentei uma consolação interior que durou vários dias…
Em relação à minha dúvida se haveria uma mudança tão grande quanto a que ocorreu após o Concílio Vaticano II, conclui que não. Efetivamente, temos uma tradução mais fiel ao texto original em latim, com versão primorosa para o português brasileiro, e houve maiores alterações nas partes proferidas pelo presidente da celebração, especialmente nas orações eucarísticas. Um aspecto bem interessante, fruto de muito trabalho da Comissão que a elaborou, foi a atualização do calendário das festas litúrgicas, incorporando os santos canonizados nos últimos 30 anos, inclusive brasileiros, com celebrações eucarísticas específicas para suas festas.
Finalmente, eu estou participando das celebrações eucarísticas com o mesmo fervor e atenção redobrada.