Pe. Washington Paranhos, SJ
As línguas portuguesa e espanhola usam uma única palavra para dizer espera e esperança. São conceitos diferentes com características semelhantes. O Jubileu, que terá início no dia 24 de dezembro, é caracterizado pelo convite do Papa à esperança. Como peregrinos de esperança, os cristãos vivem a sua presença no mundo como um caminho e como uma expectativa: o caminho do Advento torna-se assim um paradigma para interpretar a experiência cristã.
O tempo do Advento convida-nos a viver as celebrações com uma nobre simplicidade. A reserva simbólica do Glória, a cor austera das vestes litúrgicas e a ausência de grandes expressões festivas permitem encarnar a natureza do movimento, da busca do Senhor e da essencialidade típica deste tempo litúrgico[1]. Uma vez que a esperança cristã encontra a sua força em Cristo[2], e em nada mais, ano após ano renova-se a expectativa da sua vinda no tempo e no fim dos tempos. Além do caminho — experiência humana de grande significado, o Advento diz que a meta é a recordação daquela noite em Belém — na qual nasce o Senhor, orientando-nos para o seu retorno glorioso. Trata-se, portanto, de refazer a expectativa de um filho, em uma época em que a taxa de natalidade está em constante diminuição[3] e as esperanças no mundo em contínua fragmentação. O nascimento é um acontecimento cheio de esperança, e a expectativa, típica do Advento e da doce expectativa, deseja gerar em todos os crentes o mesmo sentimento de confiança no Deus dos vivos.
Esperando por sua vinda. No entanto, o Senhor já veio a este mundo, tanto que deixou os apóstolos com a promessa de um retorno glorioso. Enquanto isso, ou melhor, no tempo entre as duas vindas do Senhor, o mundo continua seu curso.
O tempo do Advento está orientado para a vinda do Salvador, que é compreendida em seu significado histórico e escatológico. Caracteriza-se, portanto, por ser um tempo: “de expectativa, de conversão, de esperança: – memória de espera da primeira e humilde vinda do Salvador em nossa carne mortal; expectativa-súplica da última e gloriosa vinda de Cristo, Senhor da história e Juiz universal; – a conversão, à qual a liturgia deste tempo convida muitas vezes com a voz dos profetas e especialmente de João Batista: ‘Arrependei-vos, porque é chegado o Reino dos Céus’ (Mt 3,2); – a jubilosa esperança de que a salvação já operada por Cristo (cf. Rm 8,24-25) e as realidades da graça já presentes no mundo atingirão a sua maturidade e plenitude, de modo que a promessa se transformará em posse, a fé em visão, e ‘seremos semelhantes a Ele, porque O veremos como Ele é’ (1 Jo 3,2)”[4].
No mundo ocidental, a dimensão simbólico-ritual em seu aspecto litúrgico e celebrativo aparece cada vez mais marginal e quase insignificante. Fora do contexto ritual, é difícil viver este entretanto como o tempo habitado pelo Espírito prometido por Cristo, um tempo que decorre entre a sua vida terrena e o seu retorno glorioso. A falta de ritualidade na vida humana encerra as pessoas no narcisismo daqueles que criam o mundo apenas com base em seu próprio ponto de vista: esse é o hábito contemporâneo de “reproduzir-se sem cessar”[5]. Não é necessário festejar para ter esperança, mas a festa dá uma profundidade inovadora às expectativas do homem: permite aos crentes não deixar o tempo passar, mas habitá-lo, enchendo-o de significado, desfrutando do seu perfume em cada estação, atribuindo o peso certo às coisas. O rito que celebramos, portanto, dá-nos a oportunidade de esperança, porque nos permite habitar no íntimo da expectativa, em profunda sintonia com aqueles que esperamos. Trata-se de uma esperança cheia de relacionalidade, prenhe de sentido, que torna “habitável” o fluxo dos dias e lhes dá esperança cristã. De fato, o mundo pode continuar mesmo sem as celebrações dos cristãos; com efeito, sem a liturgia, aqueles que acreditam percebem que “no entanto, algo está faltando, falta alguma coisa e nada está faltando, que não é nada e que é tudo”[6].
Os cristãos percebem que, na ausência do Ressuscitado, “falta tudo”; por isso, celebramos a sua expectativa como expressão daquela atitude dos primeiros crentes descrita pela Didaqué: “Viviam no caminho de todos os povos, mas conscientes de que têm cidadania no céu”. O tempo que a Igreja vive situa-se entre estas duas vindas: a do Jesus histórico e a do seu regresso glorioso. Enquanto isso, a Igreja realiza ações santas (os sacramentos e outras ações litúrgicas) que mediam a presença do Senhor durante a longa espera. Trata-se, portanto, de sentir o Ausente como Presente e o Presente, como Ausente: está Ausente porque escapa a qualquer pretensão de posse, e está Presente porque é celebrado pela Igreja e reconhecido por ela nos santos sinais da liturgia. A ausência torna-se uma presença sacramental, uma expectativa “habitável” de um encontro que acontecerá na eternidade. Esta esperança não desilude (Rm 5,5), porque a expectativa ancora a sua âncora na confiança de que o Senhor responderá à oração dos seus fiéis. Deste modo, sem recorrer a outras línguas, a expectativa que precede a solenidade do Natal e a esperança no Senhor podem ser ditas com a mesma palavra: Advento.
[1] Cf. FRANCISCO, Papa. Bula de Proclamação do Jubileu Ordinário do ano 2025, Spes non confundit, n. 5. In: AAS 116 (2024/6), p. 681.
[2] Cf.: BENTO XVI, Papa. Carta Encíclica Spe Salvi, n. 26. In: AAS 99 (2007/12), p. 1006-1007.
[3] Cf.: FRANCESCO, Papa. Spes non confundit, n. 9, p. 683.
[4] Diretório sobre a piedade popular e liturgia, n. 96.
[5] HAN,B.-C. La scomparsa dei riti. Una topologia del presente. Milano: Nottetempo, 2021, p. 19.
[6] JANKÉLÉVITCH,V. Il non-so-che e il quasi niente. Genova: Marietti, 1987, p. 109.