Pe. Elton Vitoriano Ribeiro, SJ
É muito comum, quando uma pessoa conhece os jesuítas, perguntar o que são os Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola. Apesar de serem muito conhecidos, pouca gente sabe qual é a proposta fundamental destes exercícios. Uma das formas de explicar, talvez um pouco mais sofisticada, é dizer que os Exercícios Espirituais são um caminho mistagógico de humanização à luz da fé cristã, das Sagradas Escrituras e da própria história de vida. Mas, vale agora esclarecer alguns termos para melhor entendermos esse caminho.
Comecemos com a palavra Mistagogia. Por mistagogia, entendemos o caminho humano de iniciação ao Mistério. Assim, a vida cristã é entendida e experimentada como um caminho no qual somos iniciados ao mistério de Deus, ou melhor, por Deus que é mistério. Então, os Exercícios Espirituais são considerados aqui como uma forma mistagógica de se apropriar da vida cristã. Dito isso, é fácil perceber que estamos entendendo toda a mistagogia espiritual de Santo Inácio de Loyola como baseada na certeza de que Deus marca a vida das pessoas por meio da consolação e da desolação. E que essas marcas têm um sentido e que o sentido nós o descobrimos quando interpretamos o que acontece a cada um de nós à luz do horizonte do que aconteceu com Jesus Cristo.

Para nós, cristãos, a vida de Jesus Cristo pode ser interpretada como um horizonte, o horizonte da fé e da vida. O ponto de referência que é Deus se torna para nós, mais concreto numa vida humana, a vida de Jesus Cristo, ela é o nosso horizonte. Sendo assim, para quem acolhe a revelação de Deus em Jesus Cristo, tanto a teografia (marcas de Deus na vida) como a mistagogia (a iniciação ao mistério ou à compreensão do mistério de Deus) se manifestam e se concentram em Jesus Cristo.
Surge agora outro termo: Teografia. Por teografia, podemos entender as marcas de Deus na vida de cada um de nós. Deus escreve em nossas vidas (Sl 139). A inscrição é no nosso próprio coração (2 Cor 3,3): “É conhecido que sois uma carta de Cristo, redigida por nosso intermédio, escrita não com tinta, mas com o espírito do Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas em tábuas de corações humanos”. Então, a partir dessa perspectiva podemos sempre fazer uma leitura espiritual da vida e uma leitura vital das Sagradas Escrituras. Para nós, é na contemplação da vida de Jesus Cristo, como narrada nos Evangelhos, que encontramos critérios para interpretar, à luz da fé cristã, os pensamentos e sentimentos que vêm da consolação ou da desolação em nossas vidas.
Esse caminho mistagógico de humanização é um caminho sapiencial. Entendemos aqui a sabedoria como fruto espiritual da vida de fé. O fruto espiritual não é uma série de conceitos ou ideias, nem uma solução pontual para os desafios e escolhas da vida. Mas é um colocar-se a caminho como discípulo, no seguimento de Cristo Jesus. É uma atitude mistagógica!
Como esse contexto mistagógico, teografico e sapiencial, podemos entender os Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola em sua profundidade e fecundidade para nossa vida cristã. E a partir daí, interpretar algumas partes dos Exercícios Espirituais que podem parecer muito práticas e secas, mas que são fecundas e podemos nós colocar no caminho sapiencial da fé cristã.