Pe. Adriano Luís Hahn, SJ
É significativo que, na meditação das duas bandeiras, no livrinho dos Exercícios Espirituais de Santo Inácio, sobre as tentações, diz o seguinte: “… primeiro hão de tentar com cobiça de riquezas, como costuma, a maior parte das vezes, para que mais facilmente venham à vã honra do mundo e, depois, à grande soberba (…), e destes três escalões induz a todos os outros vícios.” [EE nº 142].
A questão aqui não é a “demonização” dos bens materiais que todos necessitam para viver, tampouco é o desprezo por tudo o que é reconhecimento. Também não é a negação de nosso valor ou certa “altivez” que faz com que cada um compreenda que é importante e, portanto, tenha autoestima e dignidade. Trata-se de afetos desordenados por riquezas e honras resultantes da espoliação dos outros, da negação da dignidade de milhares de pessoas e de atitudes que desprezam os empobrecidos e mais frágeis, pisando em seus direitos, negando sua felicidade e bem-estar.
A concentração de riquezas é um dos grandes pecados sociais. Conforme o relatório Global Wealth Report 2023 e o banco suíço UBS, apenas 1,1% de indivíduos possuem 45,8% de toda a riqueza mundial. Enquanto isso, 52,5% da população mundial sobrevive com apenas 1,2% da riqueza global. Diga-se de passagem que, entre os anos 2020 e 2023, a riqueza dos 60% mais pobres da população mundial diminuiu, enquanto a riqueza dos cinco maiores bilionários do mundo dobrou durante o mesmo período (Dowbor, 2024).
Ademais, acrescente-se ao anterior a grave crise climática, que afeta diretamente os mais empobrecidos (Laudato Si’), que o Papa Francisco chamou de pecado ecológico. É um grave pecado social e ecológico contra irmãos e irmãs e contra a natureza; violência que nega a “vida em plenitude” presente no anúncio do Reino de Deus por Jesus.
Respostas simplistas, individualistas, não dão conta da complexidade dos problemas. Também não é possível atuar sem um conhecimento profundo do funcionamento e das estruturas que criam as desigualdades sociais e a destruição ambiental.
Entender a engrenagem e inspirar-se em práticas concretas são “luzes” para pensar ações em sintonia com os valores do Evangelho. Além disso, não podemos descartar a função importantíssima da política, especialmente aquela relacionada com as políticas sociais que garantem dignidade aos que mais precisam.
Referências Bibliográficas:
Carta Encíclica Laudato Si´. Sobre o cuidado da casa comum. São Paulo: Paulinas, 2015.
DOWBOR, Ladislau. 16.02.2024. Acesso: 12 jul.2025.
Fonte: https://forum21br.com.br/economia/desigualdade-no-mundo-piramide-ubs-2023/.
EXERCÍCIOS ESPIRITUAIS DE SANTO INÁCIO. Tradução por Vital Cardeiro Dias Pereira, SJ. Organização e Notas por F. de Sales Baptista, SJ. 3ª Ed. São Paulo: Edições Loyola, 1999.