Ir. Maria Inez Furtado de Mendonça, FI
O Papa Francisco, em sua Carta Encíclica Laudato Si’– Cap. IV-, amplia o sentido de “Ecologia Integral” e, no parágrafo 139, nos alerta para algo que, a cada dia, experimentamos mais na pele: vivemos uma única e complexa crise socioambiental que está sufocando a VIDA.

Ecologia Integral engloba a harmonia do ser humano com a natureza e a sociedade que a habita; do corpo com seu habitat natural e social. Vale dizer: harmonia de toda a criação, harmonia de toda relação! A interdependência das criaturas é desejada por Deus. Isso nos faz reconsiderar nosso lugar no Cosmos: somos parte de um TODO que não pode mais suportar os protagonismos que fomos criando ao longo dos séculos. A meta é preservar o todo, essa integração fundamental onde cada parte constrói harmonia, na medida em que se sabe parte integrante e que renuncia definitiva e corajosamente ao sonho equivocado de ser o ponto central, o condutor ou “O TODO”. Não será esta a nova narrativa humildade e da reciprocidade verdadeiramente evangélicas que necessitamos buscar e anunciar sem meias-medidas? Atuar como Jesus, cuja vida foi buscar e anunciar que o sentido último de nossa existência é que TODOS tenham vida e VIDA EM ABUNDÂNCIA. ( Jo 10,10).
Papa Francisco nos adverte: “Dada a amplitude das mudanças, já não é possível encontrar uma resposta específica e independente para cada parte do problema. É fundamental buscar soluções integrais que considerem as interações dos sistemas naturais entre si e com os sistemas sociais…”.
Integração e harmonia são fundamentais para superar as dificuldades mortais que estamos vivendo. Não será este um caminho para o novo humanismo que buscamos? Nada nem ninguém que se centra em si alcançará VIDA EM ABUNDÂNCIA PARA TODOS. A partir desta perspectiva, fica evidente quão apropriado é o tema escolhido para nossa Campanha da Fraternidade de 2025: Fraternidade e ECOLOGIA INTEGRAL. Além disso, a Igreja universal tendo sido convocada a viver um ANO JUBILAR, recorda-nos que “a esperança não decepciona, pois o amor de Deus foi derramado em nossos corações” – Rm 5,5 – e este caminho integrador proposto pela CF 2025 vai nos ajudar a recobrar a esperança, como virtude capaz de transformar e renovar nosso modo de VIDA.
Finalmente não posso deixar de pontuar a profunda sintonia que encontro entre o sonho da Ecologia Integral e a proposta da Contemplação para alcançar Amor que integra e coroa os EXERCÍCIOS ESPIRITUAIS de Santo Inácio de Loyola. Nessa contemplação – EE 230-237- Inácio propõe esta mesma integração vital, construtora da VIDA verdadeira, segundo nosso ser, uma harmonia que nascerá do exercício/dom experimentado e praticado de reconhecer e encontrar a bondade de Deus em todas as coisas, um encontro que determina toda nossa vida e faz nascer um novo modo de relacionar-nos com tudo e com todos. E Inácio nos recorda que isso se dará na mesma medida em que aprendermos que o amor se expressa mais em obras que em palavras e que consiste em comunicação vital das duas partes, em dar e comunicar-se mutuamente – o amado e o amante – de maneira que tudo entra nesta roda de amor. A harmonia nasce, de fato, de um novo modo de perceber/conceber a VIDA e de nela proceder. Tal conhecimento experiencial do AMOR que vem do alto e se derrama em cada criatura, desemboca em vida de amor e serviço, por gratuidade agradecida. Este amor e este serviço estão em tudo: em todas as coisas, em todo lugar, em todo tempo, abarcam todos os aspectos da vida. Tudo está conectado por este AMOR!
Vivamos esta CF com “devoção”, isto é, como “devedores uns aos outros deste AMOR”, ouvindo e respondendo a este insistente clamor de nossa comunidade plural que geme e chora por justas medidas, economia solidária, fraternidade universal, amizade social, vida digna para todos, vida integrada, integral e integradora para nosso mundo, planeta, Cosmos… Vivamos nossa conversão quaresmal com autêntica saudade do futuro. O eterno começa aqui e agora!