Ir. Maria da Consolação de Matos, FI
O Primeiro Testamento da bíblia nos conta o costume do antigo povo de Deus de celebrar o ano do jubileu. Assim, lemos no livro do Levítico 25, 8: “…farás vibrar o toque da trombeta. Declarareis santo e proclamareis a libertação de todos os moradores da terra. Será para vós um jubileu… O jubileu será uma coisa sagrada e comereis o que o campo produzir… Ninguém dentre vós oprima seu compatriota, mas tenha o temor de teu Deus, pois eu sou o vosso Deus… Guardareis os meus mandamentos, pondo-os em prática. A terra dará seus frutos; comereis com fartura e habitareis em segurança…”
Continuando, o Novo Testamento nos traz Lucas como o evangelista da alegria ao contar para nós que Jesus estando na sinagoga, após ler o texto da profecia de Isaías que lhe fora dado, confirma não só o costume de celebrar o ano da Graça do Senhor, mas, sobretudo, que o objetivo do Jubileu seria o seu projeto de vida e que Ele seria a Graça, a Boa notícia. “Todos tinham os olhos fixos nele. Então começou a dizer-lhes: Hoje, em vossa presença, cumpriu-se esta Escritura”. E, por isso, grande júbilo e admiração para todo o povo (Lc 4, 16-21). De fato, Jesus que “passou fazendo o bem”, pôs em prática o programa proferido pela boca dos antigos.
Ao longo dos tempos, o costume desta celebração jubilar veio se repetindo. E, como Igreja, o primeiro jubileu a ser celebrado foi no ano 1300 com o Papa Bonifácio VIII. A partir do século XV, passou-se a celebrar, a cada 25 anos, um ano jubilar para fazer memória do nascimento de Jesus Cristo, porque é Jesus Cristo o centro da história da humanidade. Houve uma compreensão cósmica antes de Cristo e há outra depois de Cristo, e o nosso catecismo diz que “o Filho de Deus assumiu a natureza humana para nela realizar nossa salvação” (Cat. 461-469).
Faz 25 anos que celebramos os 2000 anos do Nascimento de Jesus – foi o grande Jubileu convocado pelo então Papa João Paulo II. Discernindo as diversas realidades de nosso mundo, o Papa Francisco viu a necessidade de convocar o Jubileu Extraordinário da Misericórdia em 2016, com o lema: “Misericordiosos como o Pai”. E, desta vez, o Santo Padre, sem ironia e sem sarcasmo, diante do mundo no qual vivemos, convoca um jubileu para o ano 2025, com o lema “Peregrinos de Esperança”.
Podemos nos perguntar: Que relação há entre Misericórdia e Esperança?
Quais os sinais de Misericórdia, Esperança e Alegria que vemos em nosso mundo?
Deus é Misericórdia! (Sl144)
Misericórdia vem do latim: miseratio (miséria) + cordis (coração). Deus que é só amor, não suportando a distância de seus filhos e filhas, inclina o olhar do coração sobre a miséria humana e atrai-os a si (Jo 6,44). Para isso, assim como enviou seu próprio Filho, chama e envia profetas como luz na escuridão, como voz no deserto. Pessoas que devolvem seus dons servindo como instrumentos sacudindo a história, desinstalando os corações, levando a humanidade à conversão e assim, de novo homens e mulheres, chegam a aconchegar-se no peito de Deus Pai, amparo e proteção.
Deus é Esperança! (Sl 71,5)
Esperança vem do latim: Spes, que significa confiança que algo muito desejado vai acontecer. Pode ser baseada em alguma utopia, algo difícil de ser alcançado. Essa esperança se manifesta em maneiras de ser, estar e agir no mundo. A pessoa com esperança acredita em uma coisa que ainda não vê, que está no futuro (Rm 8,24-25). Deus é a esperança de todo cristão, porque Ele sempre cumpre o que promete e é o Deus do impossível.
Tecnologia, títulos, certificados, fama, poder, bens deste mundo já nos comprovaram que não são a garantia da Dignidade, Paz e Harmonia entre as criaturas. O brilho das coisas passageiras é um engano, mas a “Esperança não engana” (Rm 5,5). Somente a certeza de que o Pai amoroso estará sempre cuidando de cada um e cada uma é o sustento de nossa existência, mesmo que as realidades ao nosso redor e os noticiários divulguem “outras garantias”.
Durante seu pontificado, o Papa Francisco tem agido como o Papa do Júbilo. Misericórdia e Esperança são a tela de fundo dos seus documentos publicados, gestos, pregações, audiências, intervenções na vida política, social e econômica do nosso mundo. É que, onde há esperança, há JÚBILO, uma grande alegria, aclamação, grito de alegria e de vitória. Com sua experiência e testemunho, o Papa Francisco é uma voz no deserto, uma luz na escuridão, e não quer caminhar sozinho. A trombeta soou e a porta da Esperança está aberta! Entremos por esta porta e levemos o coração na direção deste som! Esse jubileu nos chama a ser um Júbilo, um grito vitorioso de Esperança. Nos interpela também a ser Voz no deserto e Luz na escuridão, como aquela Trombeta que vem soando desde toda a eternidade do coração de nosso Deus.
“Peregrinos de Esperança e da Esperança”, lema que nos empurra para a vivência do Magis: Ser peregrinos, criaturas (EE.23) cheias, plenas DE ESPERANÇA e em comunhão mútua com o amado, caminhar irradiando, contagiando o mundo, ou seja, sendo peregrinos, criaturas a serviço DA ESPERANÇA. (EE.230-231) Cabe a nós tocarmos o coração da Realidade e as realidades ao nosso redor, lugares e circunstâncias carentes ou privilegiados de esperança, e onde podemos regar as verdes possibilidades de construirmos um mundo mais ao gosto de Deus e passar fazendo o bem como Jesus. Livres, sem opressão, comamos com fartura os frutos da terra! Guardemos a Palavra no temor do Senhor e habitaremos em segurança! (Lv 25,8)
Cada dia é o Dia da Esperança e da Graça! (Rm 12,12)
Peregrinamos rumo ao ano 2030, quando celebraremos os 2000 anos do início da Vida Pública de Jesus e em 2033, os 2000 anos da Morte e Ressurreição de Jesus. “Não deixemos que nos roubem o entusiasmo missionário, nem a alegria evangelizadora, nem a Esperança, nem a comunidade! Não deixemos que nos roubem o Evangelho, nem o ideal do amor fraterno, nem a força missionária!” Vivamos o Ano da Graça do Senhor! Não deixemos que a Trombeta ressoe em vão! Outros jubileus virão!
Referências bibliográficas:
Exercícios Espirituais A Alegria do Evangelho