"Quem quiser reformar o mundo comece por si mesmo."

Santo Inácio de Loyola

O presente do Papa Francisco à Igreja do Brasil

Comentário a Bula de Canonização do Pe. José de Anchieta

Conforme o pedido feito pela Conferência dos Bispos do Brasil (CNBB) e outras autoridades civis e eclesiásticas, no dia 03 de abril de 2014, o Papa Francisco incluiu definitivamente no Catálogo dos Santos o nome do padre José de Anchieta (1534-1597). Sua canonização não seguiu o trâmite normal devido as várias interrupções históricas que sofreu. A opção apresentada ao Papa foi a canonização equipolente, isto é, quando a Igreja pode elevar um candidato aos altares sem a necessidade da comprovação de mais um milagre.

Nesta modalidade de canonização busca-se comprovar a antiguidade e constância do culto ao candidato a santo, atestar historicamente sua fé e virtudes e constatar sua intermediação e fama de milagres. Foram esses os critérios que fizeram o Colégio da Causa dos Santos recomendar a canonização do Pe. José de Anchieta, SJ. A Bula de Canonização, que corresponde ao Decreto Pontifício com os escudos Papais e escrita em latim, nos dá um testemunho admirável e inédito, pois foi assinada pelo Papa Francisco no mesmo dia em que o Colégio da Causa dos Santos emitiu sua recomendação.

A Bula de Canonização afirma que o José de Anchieta, fiel à missão e obediente ao Espírito Santo, dedicou-se inteiramente ao Senhor quando pregava o Evangelho no Brasil. Movido pela espiritualidade de Santo Inácio de Loyola, decide entrar no noviciado da Companhia de Jesus em 1° de maio de 1551. Devido a sua pouca saúde e desejoso de uma vida missionária, foi enviado ao Brasil em 13 de julho de 1553. Em Soterópolis (Cidade de São Salvador da Bahia) encontrará o Pe. Manoel da Nóbrega, SJ, transferindo-se a São Vicente e, posteriormente, à Piratininga de São Paulo, tornando-se um dos seus fundadores.

O jovem José de Anchieta começou por ensinar gramática aos filhos dos colonos e nativos, cuja língua aprendeu em pouco tempo. Após deixar o Colégio de Piratininga, foi colaborador do Pe. Nóbrega se tornando refém nas negociações de paz entre Tamoios e Portugueses (1565). Voltando a São Paulo, dedicou três anos de sua vida cuidando do corpo e do espírito dos nativos acometidos pela varíola. Embora se distinguisse pelas funções missionárias, preparou-se para receber a ordenação sacerdotal em 8 de junho de 1566. Com o Pe. Nóbrega foi enviado a São Sebastião do Rio de Janeiro, onde fundaram um Colégio, do qual foi reitor entre os anos de 1570-1573.

Sua fama de santidade e seus milagres começaram ainda em vida, logo após sua ordenação presbiteral. Engradecido por seus Superiores, foi nomeado Provincial dos Jesuítas do Brasil em 1587. Chegou a presidir um território muito extenso e cheio de desafios, como cabeça de um grupo de 140 membros da Companhia de Jesus. Duas vezes por ano ele visitava as residências e obras, ou seja, os colégios, as escolas, as aldeias, os canaviais e as fazendas. No desempenho de suas funções superou todo tipo de dificuldade, dedicando-se à promoção da empresa missionária.

O Pe. José de Anchieta fundou várias missões, incluindo Pernambuco e Porto Seguro. Na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro fundou um hospital para o cuidado dos pobres e enfermos – a Santa Casa de Misericórdia. Ele amava muito os pobres e os abandonados, fornecendo-lhes o sustento do corpo e do espírito. Homem de oração noturna, porque todos seus trabalhos, forças e inteligência estava empenhado em proveito dos outros. Será José de Anchieta quem enviará os primeiros jesuítas as terras dos guaranis, sendo ele, portanto, um dos idealizadores do grande projeto missionário nas Reduções.

Após deixar o cargo de provincial, permanece no Brasil como reitor do Colégio de Vitória (Espírito Santo), apresentando-se como pai carinhoso e amoroso, dando atenção à pregação do Evangelho e criando vários instrumentos pedagógico como o teatro. Ele dedicará todas as suas forças a obra missionária, falecendo, junto àqueles que o fizeram vir ao Brasil, isto é, os indígenas na Missão de Reritiba, em 9 de junho de 1597. Hoje, a antiga missão indígena que recolheu seu último suspiro é abundante, diz o Papa Francisco, ao ostentar desde 1887 o seu nome – Cidade de Anchieta.

O Papa Francisco conclui dizendo que José de Anchieta é um verdadeiro filho de Santo Inácio de Loyola, pois, com tanta energia e clareza, combinou ação e contemplação. Seu funeral foi um triunfo de glória, quando o povo com o coração agradecido saudou – o Apóstolo do Brasil. Por ter ampla e sólida fama de santidade, em 27 de junho de 1627 foi iniciada a causa de beatificação e canonização. Teve suas virtudes heroicas reconhecidas como “gaudio” da Igreja no Brasil em 1736. Em 22 de junho de 1980, o Papa João Paulo II incluiu seu nome na lista dos Beatos o chamando de Pai da Igreja Brasileira.

Portanto, declara o Papa Francisco, para a Maior Glória de Deus, para exaltação da fé católica e crescimento da vida cristã, por forças de nossa Autoridade Apostólica, que José de Anchieta seja Santo. Determinamos que ele seja acrescentado ao Catálogo dos Santos, devendo ser lembrado com piedosa devoção e invocado entre os Santos da Igreja Universal. E, acrescenta, que nossa resolução seja firme, imutável e irrevogável. Esperamos que seja recebida com alegria e gratidão, quer pelos pastores, quer pelos fiéis, para que contemplem à luz que brota das virtudes e sabedoria espiritual de São José de Anchieta.