Pe. Jonas Elias Caprini, SJ | Mestre de Noviços – Província dos Jesuítas do Brasil
Inácio de Loyola nos inspira a buscar o sentido de nossas vidas. Como todo ser humano jovem e sonhador, Inácio buscava encontrar seu lugar no mundo, ser vencedor e feliz. Todas essas buscas traziam certo sentido, mas não eram suficientes para a realização humana que ele almejava. A prova disso é que, ao se deparar com o fracasso na derrota de Pamplona, essas buscas se tornaram vazias e sem sentido.
O sentido da vida, quando verdadeiro, profundo e ancorado na vontade de Deus, permanece firme e inspirador mesmo diante de momentos difíceis, lutas não exitosas, tristezas e decepções. Transforma-se em uma fortaleza que oferece segurança e ânimo para continuar o caminho, confiando, acreditando e sonhando.

Acamado em Loyola, diante do fracasso sofrido e impossibilitado das lutas físicas, o jovem sonhador iniciou uma luta espiritual. Foi um tempo difícil de reinvenção e de refazer os projetos, agora escutando a Deus e nomeando os seus sentimentos. O tempo de convalescença, muitas vezes, é a porta que nos leva a repensar a vida — e foi assim que Inácio iniciou seu processo de conversão. Valores que até então norteavam seu projeto de vida começaram a dar lugar a outros, mais profundos e duradouros: servir a Deus e ao Reino com toda a sua vida.
Como aconteceu com Inácio, há momentos em nossas vidas em que precisamos refazer o caminho, examinar-nos e tomar novos rumos. A bala de canhão que destruiu a perna de Inácio pode ser interpretada de muitas maneiras (perda, fracasso, derrota), mas também foi meio, instrumento — ainda que violento — que abriu espaço para a reflexão e permitiu que o homem de Loyola encontrasse o verdadeiro sentido de sua vida. Quando passamos por momentos difíceis, em que tudo parece ter terminado, pode, na verdade, tratar-se de uma passagem, uma oportunidade para nos abrirmos a um novo ciclo. Em certas ocasiões, ficamos nos perguntando o porquê do acontecido, quando, na verdade, deveríamos nos questionar para que tal situação ocorreu.
Em Loyola, no leito da cama, Inácio se encontrava com a perna ferida e o coração em pedaços. Justamente ali, ele tomou consciência de que os homens feriram sua perna, mas Deus atingiu seu coração, provocando uma conversão que lhe abriria a possibilidade de iniciar uma vida nova e encontrar a consolação. Quantas vezes ficamos tristes quando algo não dá certo em nossa vida? Quantas vezes nos sentimos vazios e buscamos coisas externas, tentando preencher o que não será preenchido por matéria, fama, honras, prestígio, prazer, dinheiro…? Existem vazios que somente poderão ser preenchidos por Deus, que nos revela o sentido profundo de viver.
A conversão de Inácio trouxe mudanças radicais em sua vida, incompreensões, dúvidas, sofrimentos, medos e tantas outras consequências. Mas o desejo de ser todo de Deus, de gastar a vida pela Igreja, amando e servindo para a maior glória do Senhor e Criador de todas as coisas, o inflava de bons sentimentos. Toda mudança gera reações, exige esforços e perseverança, mas quando a mudança toca a vida e o estilo de vida, as dores são maiores — é um parto necessário, um nascer de novo. Somente a fé e a confiança em Deus nos fazem dar os passos necessários para essa conversão.
Amar e servir entraram na vida de Inácio — e na vida de todos aqueles e aquelas que desejam dar sentido à própria vida. Um projeto de vida sem o desejo de amar e servir aos demais, principalmente aos que mais precisam, é um projeto sem sentido, voltado egoisticamente para si, seus sonhos e projetos pessoais. Tais projetos direcionam a vida para um vazio que provoca buscas infinitas, barulhos externos, falsas aparências e tristezas interiores.
Fazer memória de Inácio de Loyola e lembrar que Deus nos chama a viver plenamente ajuda-nos a compreender o sentido da vida. São muitas as distrações ilusórias que nos fazem viver pela metade, gastando nossas energias em coisas pequenas, em exterioridades. Quando encontramos o princípio e fundamento de nossa vida, descobrimos o caminho de nossa realização como pessoa, como filhos e filhas de Deus — amados, perdoados e chamados para a missão de construir um mundo novo.
Ser jesuíta, inaciano ou inaciana é um estilo de vida no seguimento de Jesus Cristo. Inspirados pelas buscas de Inácio de Loyola, também buscamos configurar nossas vidas à vida de Cristo, com os olhos fixos no Senhor. Desejamos ser homens e mulheres contemplativos na ação, atentos para escutar os apelos de Deus, que nos ajudam a ser livres e a dizer: “Toma, Senhor, e recebe. Tudo é vosso, e com gratidão Te devolvo.” Que Santo Inácio de Loyola interceda por nós, ajude-nos a ordenar nossos afetos e a sermos servidores e servidoras da missão de Cristo, encontrando aí o verdadeiro sentido de viver.