"Quem quiser reformar o mundo comece por si mesmo."

Santo Inácio de Loyola

Quaresma: voltar ao essencial

O termo Quaresma, do latim quadragesima, significa 40 dias; assim, chama-se de Tempo da Quaresma o período de 40 dias que antecede a Páscoa. O número 40 faz alusão a alguns relatos bíblicos. Podemos nos imaginar, por exemplo, passando os 40 dias na Arca com Noé ou caminhando durante 40 anos com o povo de Israel no deserto em busca da Terra Prometida. Ou, neste Tempo Litúrgico, podemos nos imaginar por 40 dias com Jesus, no deserto, para onde, após seu Batismo, foi impelido pelo Espírito.
O que fez Jesus neste período? De maneira concreta: jejum e orações. Verdadeiramente, aprofundou-se em si e em Deus, preparando-se e discernindo sobre a forma de cumprir seu Ministério.
A Quaresma é, portanto, um tempo litúrgico propício para nos recolhermos interiormente e nos deixarmos conduzir pelo Espírito Santo. Tempo para reavaliar nosso seguimento a Jesus e nos abrir ao novo, sair de nossa zona de conforto, ser “desinstalados”, pois, isso é o que provoca mudanças, mudança de sentido, metanoia, conversão.
A Igreja, no Tempo da Quaresma, nos convida a intensificar nossa vida de oração, crescendo e estreitando cada vez mais nossa relação pessoal com Jesus. É também uma oportunidade para redescobrirmos o valor da ascese, da mortificação e do jejum, que despertam a solidariedade, a caridade (esmola) e humaniza nossas relações, tornando-as mais fraternas, com toda humanidade e com a casa comum.
É um tempo propício de mais interioridade e, para tal, muito ajudará a prática do silêncio e o exercício da atenção, de olhar e ver, de deixar-se tocar pelos acontecimentos e perceber a presença do Espírito, que sopra onde quer, desenvolvendo a mística, tão necessária no momento atual.

Campanha da Fraternidade: uma iniciativa concreta

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) nos apresenta anualmente, desde 1964, a Campanha da Fraternidade (CF), uma iniciativa concreta para realizarmos ações que testemunham um profundo arrependimento e uma verdadeira conversão… Neste ano de 2024, nossa reflexão e, consequentemente, nossa ação cristã será a partir do lema: Fraternidade e amizade social, um convite a internalizar a corresponsabilidade. No Texto Base da CF, encontramos algumas descrições do que se compreende por amizade social, inspirado na Carta Encíclica Fratelli Tutti de Papa Francisco:

Amizade social é “amor que ultrapassa as barreiras da geografia e do espaço” (FT, n.1);

Amizade social é “uma fraternidade aberta, que permite reconhecer, valorizar e amar todas as pessoas,
independentemente da sua proximidade física” (FT, n.1);

Amizade social é um amor “desejoso de abraçar a todos” (FT, n.3);

Amizade social é “comunicar com a vida o amor de Deus”, recusando impor doutrinas por meio de uma guerra dialética” (FT, n.4);

Amizade social é viver livre “de todo desejo de domínio sobre os outros” (FT, n.4);

Amizade social é “o amor que se estende para além das fronteiras” (FT, n.99), “Para todo ser vivo” (FT, n.59);

Amizade social é o “amor que rompe as cadeias que nos isolam e separam, lançando pontes; o amor que nos permite construir uma grande família na qual todos nós podemos nos sentir em casa (…). Amor que sabe de compaixão e dignidade (FT, n.62);

O amor [que] implica mais do que uma série de ações benéficas (Texto Base da Campanha da Fraternidade 2024, p. 21-22).

Com esse espírito de amizade social, somos chamados a acolher e a cuidar uns dos outros, alargando o coração para incluir aqueles que ainda não reconhecemos pertencentes ao nosso círculo de interesses, para viver uma fraternidade aberta, acolhendo cada pessoa em sua individualidade, de modo a, juntos, crescermos enquanto seres humanos, alimentando os valores morais e cristãos.

Referência: PORTELLA, Dom Joel Amado; HANSEN, Pe. Jean Poul; VENÂNCIO, Mariana Aparecida. Texto Base da Campanha da Fraternidade 2024. Brasília: CNBB, 2023.