Gina Torres

O significado de estar com saúde mudou ao longo do tempo. Inicialmente, se definia saúde pela ausência da doença e era considerada punição da pessoa pelos seus pecados, uma maldição. Essa visão da doença como resultado do comportamento pessoal foi contestada por Jesus (Jo 9,3), mas continua presente até hoje. Vale lembrar que cerca de 450 anos antes, os estudos de Hipócrates, considerado o pai da medicina, apontaram que a saúde resultava do equilíbrio dos quatro humores contidos no corpo humano, denominados por ele como: sangue, fleuma, bílis amarela e bílis negra.
No século XVIII, observou-se uma diminuição das doenças na população graças a cuidados higiênicos, melhor alimentação e avanços nas condições de trabalho, decorrentes da revolução industrial, introduzindo o componente ambiental no processo saúde-doença. Paralelamente, constatou-se que as condições insalubres nas fábricas também geravam problemas de saúde.
No final do século XIX, os estudos de Louis Pasteur e Robert Koch revelaram que muitas enfermidades eram causadas por micro-organismos, possibilitando o desenvolvimento de soros e vacinas. Essa volta ao nível individual difere da visão anterior na qual a conduta levava ao adoecimento – agora ela protege e, se a maior parte da população receber uma vacina, se evita a circulação do organismo causador da doença. Assim, firma-se o modelo biomédico que considerava saúde como a manutenção do corpo livre de doença, ressaltando a importância do tratamento.
A mudança de foco se dá em 1946 quando a Organização Mundial da Saúde adotou uma definição mais holística de saúde: não apenas a ausência de doenças, mas um “estado de bem-estar físico, mental e social”. Assim, tem início um movimento de promoção da saúde, incluindo a educação e a melhoria das condições sociais e ambientais como essenciais, além do tratamento das doenças. Na década de 1970, esse movimento foi reforçado com o enfoque dos determinantes sociais do processo saúde-doença, destacando questões como pobreza, acesso a serviços de saúde, condições de trabalho, entre outros.
No início da década 2000, a definição de saúde se torna mais abrangente, agregando de forma orgânica os diferentes aspectos envolvidos, sob a denominação “One Health”, traduzida primeiramente como Saúde Única e atualmente como Uma Só Saúde. Ela afirma que a saúde humana, a saúde animal e a saúde ambiental estão interconectadas – a colaboração entre elas é fundamental para o planeta como um todo. De acordo com o Centro de Controle de Doenças (CDC) dos Estados Unidos: “Uma Só Saúde é definida como uma abordagem colaborativa, multissetorial e transdisciplinar — trabalhando nos níveis local, regional, nacional e global — com o objetivo de alcançar resultados de saúde ideais, reconhecendo a interconexão entre pessoas, animais, plantas e seu ambiente compartilhado”. Essa visão mostrou-se especialmente relevante na pandemia de Covid-19 que ressaltou como as mudanças nos ecossistemas e as interações entre humanos e animais podem impactar o mundo inteiro.
Uma Só Saúde tem relação direta com o cuidar da Casa Comum (Laudato Sí) e com a Campanha da Fraternidade 2025 – Fraternidade e Ecologia Integral – quando alerta: “Estamos no decênio decisivo para o planeta! Ou mudamos, convertemo-nos, ou provocaremos com nossas atitudes individuais e coletivas um colapso planetário” (8).
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