"Quem quiser reformar o mundo comece por si mesmo."

Santo Inácio de Loyola

Tudo pela Taylor

Nem crise econômica, nem a política e nem mesmo a mudança climática; nada foi mais importante para um verdadeiro batalhão de jovens que se reuniram, no Rio de Janeiro e em São Paulo, por ocasião da passagem da estrela mundial Taylor Swift e da banda RBD. Uma “turba” emocionada e apaixonada atravessou o país, encheu os hotéis, as ruas e os estádios.
O foco era estar perto das estrelas por alguns momentos; sentir a emoção. Sim, a emoção coordenava tudo, os gastos e os sacrifícios… ela sempre falando mais alto! Tirava o fôlego observar a partilha dos fãs, a ansiedade e a maneira como renunciaram a tudo para saborear esse momento de “eternidade”. Muita gente saiu queimada, desidratada e outras sem fôlego. Tudo isso por causa da emoção.
O estupor era nítido. O assombro, que tirava o ar e dava muita adrenalina, em todos aqueles jovens apenas por estar diante daquelas figuras “míticas”, de “áurea celestial”. Mesmo na “sociedade do cansaço”, como intitulou Byung Chul-Han, repleta de positividade violenta em busca da maximização da produtividade pessoal – relação fundamental do capitalismo -, o preço a ser pago para consumir produtos deste valor e estima – seja no mercado da fantasia, seja no da mídia –, não significa nada. Aqui, o que vale é a emoção. Todo sacrifício é possível e compreensível, seja até o de ficar meses em uma fila para participar de um show musical. Isso mesmo, alguns ficaram meses!
Não seria esta um tipo de experiência espiritual que responde à fome de eternidade de muitos, à busca de sentido para a vida?
Uma jovem, ao ser entrevistada por uma grande emissora de TV nacional, profetizou: “pela Taylor, tudo”! Não há, então, limites para o amor que sinto e o quanto essa experiência faz sentido para mim? Um significado especial, que arrebata e insere aquele público em um grupo seleto de seguidores, discípulos e “missionários”. Discípulos que anunciam a chegada de um tempo novo e de uma era nova em que, no foco e no centro, habitam artistas que aparecem como em uma visão e somem como se estivessem em transe e gerando transe.
Nada, nem a chuva, nem sol, nem o cansaço limitaram a criatividade dos fãs “enlouquecidos”; ninguém mediu esforços para aquele momento de “adoração” – sacrificaram uma vida no altar da diva. O futebol, vez por outra, também o faz. Porém o show não pode parar: “Segue o baile”.

A mística do vazio

Depois do momento de emoção, a vida volta ao “normal”, mas a sensação e a experiência ficam, marcam e revolucionam a realidade do universo daqueles seguidores. O tema da guerra e da vida comum voltam à tona. Essa “religião” na modernidade conecta o vazio ao desafio do encontrar sentido para a existência, por meio do efeito da multidão em êxtase – chorando e cantando, gritando e ofertando todas as suas forças – sem limites, seja diante da Taylor, do RBD, do futebol, da política ou do carnaval. Todo fanatismo é idolatria. No entanto, nessa religião, a idolatria é permitida.
A “mística” das massas, embaladas por grandes artistas, não deveria tirar de nós a capacidade de lucidez e de sempre ir em busca do que é essencial. Afinal, a felicidade e a alegria dão à cultura e à arte os sabores de céu. Luzes, cores, coros, músicas, corpos, foram embalados pela fantasia que devolve ao mundo uma esperança de que, quando queremos, nada nos impede de nos unirmos em busca do que de fato importa: o bem comum e a empatia. No entanto, o fenômeno das massas (multidão) ignora a história, foca no agora, já dizia Baudrilhard (1985). Aqui mora o perigo.
Precisamos, hoje, responder a algumas perguntas fundamentais: somos capazes de sacrificar tudo por quem? Por qual motivo? Quando foi a última vez que você se sacrificou por algo? Em que crê a multidão?

O amor transformador

No mundo de hoje, também a experiência de Deus, passa pelo estupor, admiração e coragem de ofertar a vida, a alegria e a capacidade de sacrificar algo por amor? A idolatria se caracteriza, quando confundimos o Divino com o ídolo; quando ocupamos o lugar de Deus com o culto a coisas, pessoas; quando confundimos estupor com a histeria.
A alegria, a entrega e a emoção da juventude nesses dias, tudo o que vi por meio da mídia, me fez pensar que é necessário ter algo pelo qual “gastar a vida”. Somos todos livres. A liberdade nos proporciona a oportunidade de orientar o coração para aquilo que, de fato, vale a pena: o amor. Só o amor será decisivo e transformador na vida de todos e somente se formos capazes de amar.
Mas, eu creio que haverá espaço suficiente em cada pessoa para a mística e a música, que podem andar de “mãos dadas”, basta ver a história.