Lilian Carvalho
A humanidade vem sofrendo com uma ferida mortal. O mal do ódio e da polarização, aliados ao capitalismo voraz e predatório, se infiltram em cada ser por mediações sociais aparentemente inocentes e prazerosas. Ideologias do mal utilizam-se de TODOS os meios – religião, política, arte, cultura, entretenimento – para DESUMANIZAR toda a civilização.
Mas as ilusões se desfazem como fumaça no ar. A ferida, que sangra a nossa civilização, está grande demais para suportar! A cada respiração nos sufoca a dor de nossos irmãos feridos pelas guerras. Guerra de poder, guerra do terror, guerras da fome. Não há mais volta, é preciso agir.

Gaza é o ícone do fracasso da humanidade e não é a única! Em cada continente há milhares de pessoas morrendo pela crueldade e luta por poder de uma minoria perversa. Lucra-se com a guerra, com o tráfico, com a fome. Tudo é tão complexo e impensável… E em cada ser humano, consciente disso tudo, a dor pelos irmãos que sofrem e pela nossa impotência se tornam um peso insuportável.
No entanto, não podemos nos entregar. Podemos ver que essa impotência real pode não ser total. Ela pode se tornar fonte de vida aqui e agora. Ela nasce da indignação pelas injustiças. Ela nasce de uma força que permanece e latente, a força do amor de Deus que nos faz irmãos, a força daqueles que não querem a guerra! Ela vem dando sinais nas principais capitais pelo mundo afora. Ela precisa crescer e se manifestar para dizer à guerra que chega de morte!
A impotência também se torna fonte de vida na força de quem se une para rezar e pedir ajuda de Deus para iluminar os que detém o poder! Certo é que precisamos estar de prontidão para que, ao menor sinal de oportunidade, possamos ir ao encontro de todos os que sofrem e nos fazermos próximos, como Jesus nos ensinou: ir ao encontro dos feridos e sanar suas dores, alimentar os que tem fome, vestir os que têm frio, dar de beber aos que têm sede, dar esperança aos que a perderam e amar os que estão sozinhos, amar os que estão sofrendo as várias faces da morte. Para isso, basta olhar ao redor, não é preciso ir longe. As consequências devastadoras do mal estão por todo lado.
Há muitas guerras aparentemente invisíveis e silenciosas espalhadas ao nosso redor. Mas não, esse não é o mundo querido por Deus e a morte não tem a última palavra. Temos várias formas de agir e ajudar as pessoas a repensar toda essa estrutura falida de poder e ódio. Precisamos ser voz profética no mundo para denunciar a morte e lutar pelos mais vulneráveis. Temos várias formas de buscar conscientização e diálogo, pois é no campo das ideias que tudo começa. Ajudar a libertar as mentes, desmontar os esquemas do mal mostrando as motivações verdadeiras de quem se coloca a serviço do povo, mas tem atitudes contrárias à vida de toda criação de Deus!
Procurar vigiar e orar, para estar do lado do Senhor da Vida, que vive no meio de nós, já é uma parte da solução. Que sejamos parte do lado que luta pela vida, pela paz, que defende os mais vulneráveis, os pobres de Deus, nossos irmãos queridos. Que possamos praticar a justiça ao modo de Deus, fundamentados no amor, na fraternidade, na solidariedade e na prática da misericórdia.
Que sejamos, como Maria, na humildade de quem sabe que só pode se oferecer como instrumento fiel a Deus, que possamos permanecer como um ponto luminoso a irradiar a paz gerando Cristo no mundo para que, por meio d’Ele, as vidas sejam configuradas e toda a humanidade se torne o sonho humano do Criador: imagem e semelhança de Deus amor.